quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Generos Textuais
1. GÊNEROS TEXTUAIS: DEFINIÇÃO E FUNCIONALIDADE Luís Antônio Marcuschi
2. PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM LINGUAGEM, ENSINO E TECNOLOGIAS Disciplina: Linguagem, Texto e Discurso Professora: Kári Forneck Aluna: Luciane Heffel de Oliveira MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, ângela P.; MACHADO, Anna R.; BEZERRA, Maria A. (Org.) Gêneros Textuais e Ensino. 2ª ed. Rio de Janeiro:Lucerna, 2003.
3. 1. Gêneros textuais como práticas sócio-históricas
Contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia;
São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa;
Os gêneros textuais surgem situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem e caracterizam-se muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades lingüísticas e estruturais
4. 2. Novos gêneros e velhas bases
As novas tecnologias, ou seja, a intensidade do uso das tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais, formas inovadoras. Fato já notado por Bakhtin(1997) quando falava na transmutação dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro gerando novos .
Exemplos: a) conversa -> telefonema
b) bilhete -> carta -> e-mail
Os limites entre a oralidade e a escrita tornam-se menos visíveis, a isto chama-se hibridismo que desafia as relações entre oralidade e escrita e inviabiliza de forma definitiva a visão dicotômica.
Os gêneros híbridos permitem observar melhor a integração entre os vários tipos de semioses: signos verbais, sons, imagens e formas em movimento.
5. Definição de tipo e gênero textual
É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero , assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto .
Esta visão segue a noção de língua como atividade social, histórica e cognitiva, privilegia a natureza funcional e interativa. A língua é tida como uma forma de ação social e histórica e que, ao dizer, também constitui a realidade sem contudo cair num subjetivismo ou idealismo ingênuo. Neste contexto os gêneros textuais se constituem como ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo.
6.
Texto é uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual.
Discurso é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. O discurso se realiza nos textos.
7. Domínio Discursivo
Uma esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade humana. Não são textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante específicos. Discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso, discurso político, etc.
8. TIPOS TEXTUAIS definição Espécie de seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição(aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) abrangem
narração
argumentação
exposição
descrição
injunção
são Constructos teóricos por propriedades lingüísticas intrínsecas constituem Seqüências lingüísticas ou de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos
9. Tipos Textuais – Classificação segundo Werlich(1973) Exposição analítica pelo processo de decomposição. Um sujeito, um verbo da família do verbo ter(ou verbos como contém, consiste, compreende) e um complemento que estabelece com o sujeito uma relação parte-todo.Enunciado de ligação de fenômenos.Ex.: O cérebro tem dez milhões de neurônios. Exposição sintética pelo processo de composição. Um sujeito e um predicado(no presente) e um complemento com um grupo nominal. Enunciado de identificação de fenômenos. Ex.: Uma parte do cérebro é o córtex. Expositiva Estrutura simples com um verbo estático no presente ou imperfeito, um complemento e uma indicação circunstancial de lugar. Ex.: Sobre a mesa havia milhares de vidros. Descritiva
10. Tipos Textuais – Classificação segundo Werlich(1973) Um verbo no imperativo. Enunciados incitadores à ação. Podem assumir configuração mais longe onde o imperativo é substituído por “deve”. Ex.: Pare! Seja razoável. Todos brasileiros acima de 18 anos do sexo masculino devem comparecer ao exército para alistarem-se. Injuntiva Uma forma verbal com o verbo ser no presente e um complemento. Enunciado de qualidade. Ex.: A obsessão com a durabilidade nas Artes não é permanente. Argumentativa Verbo de mudança no passado, um circunstancial de tempo e lugar. Enunciado indicativo de ação. Ex.: Os passageiros aterrissaram em Nova York no meio da noite. Narrativa
11. Gêneros textuais Realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas . Textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas Abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função. Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, resenha, inquérito policial, conferência, bate-papo virtual, etc
12. Observações sobre Gêneros Textuais
Quando dominamos um gênero textual, dominamos uma forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares. ”A apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas” -> Bronckart(1999) Os gêneros operam, em certos contextos, como formas de legitimação discursiva, já que se situam numa relação sócio-histórica com fontes de produção que lhes dão sustentação muito além da justificativa individual.
13. Observações sobre Gêneros Textuais
Intertextualidade inter-gêneros = um gênero com função de outro
Intertextualidade tipológica = um gênero com a presença de vários tipos
A possibilidade de operação e maleabilidade dá aos gêneros enorme capacidade de adaptação e ausência de rigidez. Miller(1984) considera o gênero como “ação social” e diz: “uma definição de gênero não deve centrar-se na substância nem na forma do discurso, mas na ação em que ele aparece para realizar-se.”
Bakhtin(1997) indicava a “construção composicional”, ao lado do “conteúdo temático” e do “estilo” como as três características dos gêneros.
Os gêneros são, em última análise, o reflexo das estruturas sociais recorrentes e típicas de cada cultura.
14. Gêneros textuais e ensino
Ter em mente a questão da relação oralidade e escrita no contexto dos gêneros textuais, desde os mais informais até os mais formais e em todos os contextos e situações de vida cotidiana.
Os gêneros são modelos comunicativos e servem, muitas vezes para criar uma expectativa no interlocutor e prepará-lo para determinada reação. Operam prospectivamente, abrindo o caminho da compreensão, como frisou Bakhtin(1997).
Os interlocutores seguem em geral três critérios para designarem seus textos: [Elizabeth Gulich(1986)]
 Canal/ meio de comunicação(telefonema, carta, telegrama)
 Critérios formais(discussão, conto, debate, contrato, ata, poema)
 Natureza do conteúdo(piada, prefácio de livro, receita culinária, bula de remédio)
15. Gêneros textuais e ensino
Para Douglas Bilber(1988), os gêneros são geralmente determinados com base nos objetivos dos falantes e na natureza do tópico tratado.
Os gêneros textuais se fundem em critérios externos(sócio-comunicativos e discursivos) e os tipos textuais fundam-se em critérios internos(lingüísticos e formais).
o Adequação tipológica que diz respeito à relação que deveria haver, na produção de cada gênero textual, entre os seguintes aspectos:
Natureza da informação ou do conteúdo veiculado;
Nível de linguagem(formal, informal, dialetal, culta, etc)
Tipo de situação em que o gênero se situa(pública, privada, corriqueira, solene, etc)
Relação entre os participantes(conhecidos, desconhecidos, nível social, formação, etc)
Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas.

TRABALHANDO GÊNEROS TEXTUAIS

1-Distinguir as características de gênero literário e não-literário;

2-Caracterizar gênero poético, de acordo com a função estética da linguagem;

3-Caracterizar uma das formas de realização do gênero poético: o CORDEL.

Como coordenador, percebi um ótimo empenho e um bom levantamento de dados por parte dos cursistas com relação ao desenvolvimento dos objetivos propostos na unidade. Em suma, o relato deles é de que os alunos conseguem discernir com desenvoltura o texto literário do não literário. Com relação à métrica, é constatado que se torna muito difícil elaborar um texto obedecendo-se a regra, mas há uma certa acepção a respeito da carga de fonemas necessária para a efetivação de um verso composto por eles.

Como cursista, trabalhei o texto ´Lavadeiras de Moçoró´ TP3, p.59, com o objetivo de fazê-los ver, pela primeira vez, a diferença do literário para o não-literário. Para introdução ao assunto, elaborei um texto não literário a respeito do município em questão: Mossoró. Nele fiz constar população, localização geográfica, situação econômica, vida social e dois fatos marcantes para o município: a invasão de Lampião e o fato de já ter libertado os escravos de lá cinco anos antes da Lei Áurea. Pedi que fizessem uma leitura em silêncio. Após o término deste passo, entreguei o texto Lavadeiras de Moçoró e fiz o mesmo pedido. Levando em consideração o fato de que o termo e a ação das lavadeiras por aqui é algo inédito, não foi surpresa nenhuma as respostas deles de que o texto de mais fácil interpretação foi Mossoró. Apenas após comentar sobre expressões como ´vão passando as águas no tempo`, ´umas são arredondadas e cheias´, ´ao sabor do trabalho` e `acompanha em surdina´ é que passaram a perceber e entender as ´imagens´ contidas na imaginação de um autor e que agora começam a ser percebidas por eles. Numa das minhas propostas, a maioria foi bem para uma primeira vez: retirar as tais imagens e manter o texto. Começam, a partir de agora, a perceber e trabalhar, também, a conotação. É nítida a dificuldade por parte de alguns em perceber o que não está escrito, mas como é um início...

Relato do cursista Marcelo: “O gênero textual fábula era visto por mim como um gênero sem muita importância. Todavia, durante o preparo e a realização desta atividade, percebi o quão importante ele é, pois os alunos tiveram prazer e curiosidade em participar, destacando aspectos positivos na leitura e interpretação textual. Assim, de uma maneira natural, sentiram-se à vontade para realizar interpretação do texto. Algumas questões foram de fácil interpretação para toda a turma, outras, menos explícitas no texto, trouxeram um pouco de dificuldade cabendo neste momento, o intermédio do professor. Palavras como reivindicar e doidivanas tiveram que ser pesquisadas no dicionário, pois eram desconhecidas pela maioria dos alunos. A proposta de elaborar um final diferente e uma moral diferente foi bastante proveitosa com finais criativos e com morais coerentes. O texto trabalhado foi `A galinha reivindicativa`. A experiência evidenciou a necessidade de tornar mais presente o gênero textual fábula nas aulas de língua portuguesa.”

Relato da cursista Silvana:

“Trabalhei com o poema concreto Lixo e o poema Refrão da Cidade e gostei muito dos trabalhos, porém meus alunos tiveram um pouco de dificuldade com a interpretação. Apenas depois de discutirmos um pouco em grupo acerca dos mesmos, eles conseguiram inferir com mais facilidade. Este trabalho despertou neles o senso crítico e a reflexão sobre o tema e sobre a forma de publicação: o poema. Desenvolvo na turma um jornalzinho. Os alunos adoram fazê-lo, pois desperta neles um grande interesse pelas novidades da escola: aniversariantes do mês, piadas, charadas, horóscopo... O jornalzinho trabalha com a leitura e escrita e tem boa repercussão, pois todos que compram, o guardam para colecionar. Percebe-se neles a preocupação em escrever de forma clara e sem erros, apesar de que preciso revisar as edições para as eventuais ´arrumações`.”

Relato da cursista Mariéli:

“Classificados foi o gênero trabalhado em uma turma de oitava série. A turma foi dividida em grupos de quatro alunos. Metade ficou encarregada de desenvolver o gênero em uma linguagem literária e outra em uma linguagem não literária. Gostei bastante do resultado obtido, pois os classificados produzidos foram bem criativos. Abaixo alguns trabalhos de dois grupos de educandos:

“Trocaremos a mágoa pela amizade
para conquistar a felicidade,
para “conquistar” a nossa esperança.
Poderemos trocar fofocas e intrigas pela confiança
e os risos não vamos vender
para as pessoas felizes nos ver!”
Katiele, Jaqueline e Igor
“Procuro urgentemente alguém
que saiba respeitar.
O ódio está dominando
e fica muito difícil suportar.
Os bons costumes se deteriorando
e ninguém mais com capacidade de amar.”
Mariana, Rafaela e Tainá
A ESCOLA E O LIXO
A escola era linda
antes do lixo chegar
depois da chegada dele
tudo veio a piorar
Os alunos de hoje em dia
não tem noção do errado
não se preocupam com a escola
e jogam lixo pra todo lado
No corredor há várias lixeiras
Para o lixo recolher
Mas tem gente que passa por elas
E finge que nem as vê
Alguns colegas da escola
Pensam que lixeira é carrinho
Entram nelas como lixo
E outros empurram pelo caminho
Mas é preciso pensar um pouco
No futuro da gente
Cuidar bem da nossa escola
Zelando pelo meio ambiente
Professores e alunos
Juntos, com a direção
Tem que amar a nossa escola
Pois isto é Educação
  • cordel apresentado por Nicole Lummertz, aluna de 6a série

GENEROS TEXTUAIS

Gêneros textuais são tipos específicos de texto de qualquer natureza, literários ou não Tanto na forma oral como na escrita, os gêneros textuais são caracterizados por funções específicas e organização retórica mais ou menos típica. São reconhecíveis pelas características funcionais e organizacionais que exibem e pelos contextos onde são utilizados. Gêneros textuais são formas de interação, reprodução e possível alteração sociais que constituem ao mesmo tempo, processos e ações sociais e envolvem questões de acesso (quem usa quais textos) e poder.